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Entre trovas e trovões, a história de um cristão.

"Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna." João 3:16

domingo, 1 de agosto de 2010

A reunião daquela terça-feira parecia ainda mais monótona que o usual, embora o novo perfume da diretora, com um cheiro lancinante de jujubas recém-fabricadas trouxesse a náusea coletiva como complemento. Para qualquer um dos lados que João olhasse, sua visão não lhe revelava nada além do que já conhecia, nada além do bom e velho marasmo acinzentado que recobria aquele lugar. As bochechas enrubescidas da madame, ocultas sob uma densa camada de pó-de-arroz, deixavam transparecer que algo naquele lugar não fluía muito bem.

Reuniões gerenciais eram sempre precedidas de uma insuportável ritualidade, quase canonicamente metódicas. Naquela manhã, algo quebrara os protocolos e nenhum preâmbulo habitual fora observado. Como que numa miraculosa transfiguração do fictício para o real, a primeira fala do corpo diretor foi “Seremos breves”. O que seria tratado logo em seguida, de fato, não faria muita importância – pois como o próprio diretor o dissera, o que é breve, é supérfluo.

Embora sempre discordasse do adágio, João prosseguia atento à pauta, tentando formar um novo teorema que conseguisse atribuir relevância às coisas efêmeras. Ora, não fazia o menor sentido dizer que o que é breve não é importante, se um orgasmo dura em média 20 segundos e dele pode surgir uma nova vida.

Seu sorrisinho de mofa denunciara o pensamento libidinoso, interrompido bruscamente pelo fechar das agendas e uma convocação para a reunião vespertina. Em total coerência com o pensamento do diretor, o encontro breve fora realmente supérfluo.


TROVA #04: DECIDUIDADE


Vida, tão breve quanto o seu nome,
desencanta-me pelo teu correr.
Pois se somente o perene, algo vale,
nada de ti há de florescer.

Vida, ampulheta da existência,
expulsa-me de teu arrastar.
Pois se em fogo efêmero nada arde,
em mediocridade hás de galgar.

Ó, dilema que me é cruel!
Ou vivo eu demais, e algo valho,
ou vivo aquém do tempo, e morro falho.

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